Sandra, a inteligente jornalista do Folha Sete, perguntou-me há algum tempo quais eram as causas do consumo cada vez maior de droga na cidade. Como boa jornalista que é, sugeriu logo na pergunta a resposta: é a falta de opções de lazer da juventude? No impulso acabei respondendo que sim. A pergunta, entretanto, me intrigou, como costuma ocorrer com as boas perguntas.
Será mesmo que a falta de opções de lazer é que leva a gurizada à droga? Antigamente, garanto, havia menos opções que hoje. Mas também menos consumo de droga. Logo, a premissa já não é correta: a falta de opções não deve ser a causa de tanta droga. Até aqui, entretanto, tenho apenas meia resposta.
Se a droga é tão ruim, qual será ou serão as causas do consumo de droga na sociedade pós-moderna, esta sociedade em que atualmente vivemos, a “sociedade da informação” ou a “sociedade pós-industrial”, como alguns sociólogos a tem definido?
Sim, vivemos numa sociedade em que todas as informações estão disponíveis ao alcance de nossas mãos pela internet, pela televisão, pelo telefone, até mesmo pelo celular. Hoje já temos um oráculo, muito melhor que o de Delfos, que nos responde a tudo, de medicina a teologia, inclusive pelo celular, que é o Google. Resolvemos problemas de antigamente muito mais rápido, pelo fax, pela internet, por telefone. Pode-se comprar uma TV fabricada em Taiwan pela internet e ligá-la em nossas casas menos de um mês depois da fabricação. A cultura parece ter se tornado universal, com todos gostando dos mesmos filmes, do mesmo estilo musical, dos mesmos livros.
Mas mesmo com tudo isso, mesmo com toda essa informação, continuamos absolutamente ignorantes em matéria de mundo e cada vez mais resumidos ao conteúdo que nos despeja diariamente a televisão, que já foi chamada de Príncipe Eletrônico (parodiando o Príncipe de Maquiavel). Mesmo com toda essa rapidez, não temos mais tempo para nada, para cumprimentar um vizinho, para telefonar para um amigo ou para simplesmente jogar conversa fora. E na cultura, então, mesmo conhecendo agora como nunca línguas, mundos, lugares, acabamos ficando reféns de mais do mesmo.
E daí vem a resposta à pergunta da Sandra: o consumo de droga, penso eu, vem justamente desta (falsa) necessidade cada vez maior por velocidade, ou seja, pelo prazer imediato que a droga traz. O prazer de uma vista bonita lá de cima daquela colina já não é nada perto do prazer que a droga traz num segundo. A velocidade do pensamento gerada nos instantes que se seguem à inalação do crack é tão violenta que não encontra comparativo nem mesmo no mais ágil dos jogos de cartas. O prazer de um trabalho bem feito, bem concluído, de uma risada gostosa, do amor na medida certa; nada disso se compara mais.
Então a droga não é problema da juventude, mas sim dos tempos pós-modernos. A droga é um problema não de falta do que fazer, mas de ter muito o que fazer e querer sempre mais, como diz a música da Pitty. A droga é certamente o mal deste início de milênio, e talvez jamais se separe de nós. O que precisamos, assim, é saber lidar com essa realidade, prevenindo, punindo e curando, como o Conselho Municipal Antidrogas de Seara bem vem fazendo, com excelentes resultados.