quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O que é surrealismo?


Em frente à televisão, na sala, um rapaz, 22 anos, recém saído da faculdade. Faculdade dessas, cheia de gente, de cursos, contrata e demite professor toda semana. Entrou achando que um diploma seria a salvação da lavoura. Sai agora com a certeza de que é mais um. Pensa num curso de especialização, quem sabe mestrado. Lembra: foi o mesmo pensamento de cinco anos atrás; o diploma não adiantou de nada. Desempregado. Da profissão, pra falar a verdade, não sabe nada; mal escreve, nem crase sabe colocar.


Ajusta a antena da televisão; ruim, mesmo com essa antena pirata. Ainda bem que não paguei nada, ficou de graça. Amanhã vai levar o currículo noutro escritório e também numa loja. Quem sabe pagam melhor um vendedor de sapatos se tiver diploma? Mas... que currículo? O que aprendeu durante a faculdade? Cinco anos e, olhando para trás... nada. Ou muito pouco. Mas passou sempre com notas boas. Ninguém reprovava. Ninguém. Coisa estranha.

Volta para a televisão. Passa para um canal aberto. Um sujeito, também pouco mais de vinte anos, com terno dois números maior, une as mãos e faz um gesto de "venha". Aumenta o som. Propaganda partidária. Venha para nosso partido, filie-se. Seja mais um na luta pela... Uma mensagem no celular chama sua atenção. Lê e apaga: um, dois, três, quatro, cinco - já não lembra mais da mensagem. Venha para nosso partido, filie-se. Uma jovem, talvez vinte e cinco, trinta, aparece. Filie-se, venha, mãos unidas. Nos olhos dá pra perceber o vai e vem de uma leitura mal treinada. Umas tomadas externas mal-feitas, entrevistas na praça com luz contra, mal dá pra ver o rosto do entrevistado. Um mais velho, mais de setenta, com toda certeza, terno trespassado, com botões dourados, parece pracinha da FAB. Junta as mãos, lê um pouco mais devagar o teleprompt: Venha para nosso partido, filie-se. Não dão telefone, não dão e-mail, não dão endereço. Venha para nosso partido, filie-se. 

O rapaz vai lá, entra na página do partido, liga, pede para se filiar. Filia-se. Surrealismo.

Surrealismo é acharem que vão convencer alguém a se filiar desse jeito.