quarta-feira, 17 de julho de 2013

Entre jatinhos e helicópteros

Entre o jatinho e o helicóptero há cidades mal administradas, em que o trabalhador leva uma hora para percorrer 10 quilômetros.

Entre o jatinho e o helicóptero há pessoas abandonadas à própria sorte, que mesmo com dinheiro para pagar, provavelmente não encontrarão um táxi. O dono do ponto do táxi anda de motorista particular, mas nunca levou um passageiro sequer.

Entre o jatinho e o helicóptero o cidadão vai ao trabalho e à escola de bicicleta. Em casa todos rezam para que volte vivo (ou pelo menos inteiro).

Tem também aquele que não consegue vaga no ônibus lotado e que quando consegue tem que andar em pé, no calor, pra chegar ao trabalho suado e levar desaforo do chefe.

Entre o jatinho e o helicóptero tem o metrô, com poucas linhas, mas muito investimento. Investimento para os empreiteiros. Tem o chicote, o empurra-empurra, a mão-boba e o batedor de carteira. 

Entre o jatinho e o helicóptero tem uma montanha de dinheiro. Tem uma passagem de ônibus que custa uma hora de trabalho da maioria dos empregados. Tem também a passagem do avião, que não é de carreira, que vai com amigos e parentes ver futebol, quase vazio, e custa mais de cem mil reais, uma vida inteira de economia da maioria dos empregados do país. Tem bem mais de R$ 0,20.

Entre o jatinho e o helicóptero tem uma fila de gente esperando um exame médico, uma cirurgia, um remédio que não tem no posto. Tem o pai de família que paga Unimed e só consegue consulta pra daqui a sessenta dias.

Entre o jatinho e o helicóptero tem pouca vergonha na cara.