Os estudos mais modernos de teoria das organizações a que tive acesso me fizeram pensar numa coisa. Será que o Ministério Público está se organizando em forma de rede e aproveitando mesmo o conhecimento gerado por seus membros?
Aos poucos eu diria que sim, mas ainda falta muito para chegarmos até lá.
Para alguns estudiosos da administração, existem duas formas de conhecimento numa organização. O conhecimento explícito, que pode ser comunicado e documentado através da linguagem. Pensem, por exemplo, nos pareceres em consultas formuladas pelo promotores aos centros de apoio. Mas há também o conhecimento tácito, que é adquirido pela experiência e nem sempre se manifesta exteriormente. Imaginem aqui as inúmeras estratégias de atuação funcional, como no júri, na condução de um inquérito civil público, na atuação em audiências.
Hoje alguns Ministérios Públicos, e o de Santa Catarina é um bom exemplo, mantêm em suas páginas na internet ou intranet sua base de dados, de pareceres, estudos, peças, e inclusive estratégias de atuação. Em Santa Catarina temos na intranet uma boa quantidade de documentos, mas ainda é mais fácil pedir por e-mail ao centro de apoio o material disponível sobre determinado assunto. Está aí, portanto, o conhecimento explícito.
Mas peca-se muito ainda no que diz respeito ao conhecimento implícito. Vi poucas iniciativas, acho que só uma até agora, de aproveitar este conhecimento nesta espécie de organização. Foi quando o centro de apoio da Infância e Juventude criou a interessante seção “experiências de promotorias” na intranet. Os membros que tivessem interesse poderiam descrever as estratégias que adotaram para resolver determinado problema com sucesso. Pena que poucos encamparam a ideia e apresentaram suas ideias.
Isso foi ótimo, mas acho que é preciso mais, muito mais, considerando principalmente a qualidade irrefutável do trabalho realizado pela maioria dos membros. Penso inicialmente em cursos obrigatórios de reciclagem e atualização em que os membros não apenas sejam submetidos às enfadonhas palestras, mas que, depois das palestras, que deverão ser mais curtas, com o apoio de monitores, sentem-se em mesas redondas, com poucos membros, mas num grupo bem heterogêneo, discutindo problemas específicos levantados pelos monitores e formas de solução. E isso nem precisaria ficar registrado. Seria realmente ainda o conhecimento implícito, em que os próprios membros do grupo se encarregariam de melhorar o que entendessem necessário e naturalmente repassariam adiante.
Se há uma causa para esse enclausuramento do conhecimento tácito nos indivíduos, acredito que seja a natureza de relativo isolamento dos promotores. Sim, porque apesar de conectados à sociedade, quer pelo júri, pelo atendimento ao público, à imprensa, às partes, a maioria ainda trabalha isolado de seus colegas, em comarcas de vara única nos primeiros (e talvez mais profícuos) anos da carreira. Forja-se, aí, um ser isolado que pouco será provocado a trabalhar em grupo e cuja larga experiência não será bem aproveitada.
Apaga-se a criatividade, o senso de comunidade com o Ministério Público, com os fins da instituição, que, não fossem as qualidades de muitos dos seus membros, nos levariam à falência. E aí estarão diversos outros órgãos ansiosos para adotar nossas funções e serem Ministério Público.