quinta-feira, 22 de julho de 2010

O que faz de alguém um bom promotor?




Faz pouco tempo que entrei na carreira. Não sou portanto o mais indicado para tratar do tema. Acho até arriscado demais, mas... lá vou eu de novo.

Quais serão as características pessoais para alguém ser um bom promotor? Os concursos públicos estão aí, cada vez mais difíceis, cada vez mais técnicos (será esta a palavra correta), cada vez mais exigentes, e mesmo assim tenho minhas dúvidas em afirmar se vêm selecionando mesmo as pessoas mais bem habilitadas para o cargo.

Sim, porque ser um bom promotor não é simplesmente saber muito de direito, não é simplesmente ter capacidade de memorizar todas aquelas regras jurídicas que jamais vamos precisar, não é simplesmente escrever muito bem uma petição. Afinal, porque cargas d´água precisa um promotor saber de cabeça as regras de extraterritorialidade da lei penal se está tudo ali no código, em cima de nossa mesa?

De nada adianta isso tudo se não tiver vontade de trabalhar, vontade de ser promotor. Não adianta nada se quiser o cargo público como apenas um salário estável, como uma segurança profissional. Também de nada adianta tudo isso se o sujeito tiver postura social inadequada, como ocorreu há pouco tempo por aqui: devia a Deus e todo mundo e trabalhava no juizado especial.

Para ser um bom promotor de justiça me parece que a primeira característica a buscar no candidato é justamente a vontade de... promover a justiça. Este sentimento que se indigna perante injustiças, que briga até o último instante pelo que entende ser justo; é preciso aquela gana de fuçar, de investigar (sim!), aquela disposição para levar sua convicção até as últimas consequências.

Aquele que se acomoda, que acha mais fácil, mais tranquilo, deixar a investigação apenas para a delegacia; aquele que no curso do processo aceita passivamente as injustiças como se fosse algo natural, que aceita uma decisão judicial para “não se incomodar”, este não pode ser promotor. Não pode ser promotor quem não tem postura pro-ativa, para usar um termo da moda; ou quem não levanta seu traseiro da cadeira para somar à causa algo a mais, justamente o que fará toda a diferença no julgamento.

Entre o decorador de leis e entre o intrépido, entre o sensato e o arrojado, entre o escritor empolado e o claudicante no vernáculo, mas pesquisador e interessado, fico sempre com os últimos. São aqueles que farão a diferença, aqueles que não estão ali apenas aguardando a aposentadoria ou o contracheque no fim do mês. São, enfim, os verdadeiros promotores da Justiça.