Enquanto isso, numa promotoria do interior do Brasil...
- Doutor, bom dia!
- Bom dia, senhor, sente-se, por favor. Aperta a mão do cidadão e franze um pouco a testa. A dor na mão direita está
cada vez maior.
- Doutor, só vim tirar uma dúvida. Vi na televisão o ministro falando que vão digitalizar os processos e que a Justiça vai ser bem mais rápida. Tem alguma previsão para julgamento do meu processo?
- Qual é mesmo o seu nome?
- Aristides Vieira, meu filho foi morto numa briga aqui, faz uns três anos, e o réu ainda não foi a júri.
- Hum, deixa eu ver aqui no sistema... está um pouco lento hoje. Só um pouco... ah... de novo, problemas no servidor. Só um instante.
Pega o telefone, novamente aquela dor na mão direita. Liga para o cartório. Ninguém atende. Lembra que ainda são só dez horas da manhã, ninguém chegou.
- Seu Aristides, o sistema não está funcionando e não tenho como ver o andamento de seu processo. O pessoal do cartório só trabalha a tarde. O senhor poderia voltar depois ou nos ligar?
- Ah, doutor, vai ficar complicado pra mim. Saí agora no meu intervalo da manhã. Hoje eu pego às 7h e só saio à noitinha. Estou fazendo hora-extra pra pagar o assistente de acusação. E se o patrão me pega no telefone, já viu...
- Eu imagino... quem sabe o senhor dá uma olhada na internet em casa. Se o sistema voltar vai estar lá a movimentação do seu processo.
- Ishhh, homem, não tenho isso não. Nem tem computador lá em casa. Eu volto depois de amanhã então. Vou trocar o intervalo com um colega lá na firma. Obrigado, doutor.
- De nada, desculpe não poder atendê-lo.
- Sem problema, doutor. Tomara que com a digitalização dos processos o meu caso vá pra julgamento logo.
- É... tomara...