quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Que otário!


O doutor em ciências criminais chega na sala de inquirições da delegacia. Foi chamado porque o preso pediu sua presença. Havia matado a namorada a facadas e queria “trocar uma idéia”.

Lá vai:

- Oi doutor, li seu livro na última vez em que fui preso... Queria saber o que fazer para ser solto de novo.
- Qual livro?
- Aquele que fala de abolicionismo, que diz que quem pratica um crime é fruto da sociedade, que diz que eu não tenho culpa de nada.
- Ah, sim, mas o que você fez desta vez?
- Minha gata, sabe, doutor, eu estava desconfiado de traição. Perguntei pra ela duas vezes, três vezes, e ela não respondia olhando nos meus olhos. Resolvi dar uns tapas pra ver se ela abria jogo, mas não adiantou. Acabei ficando com raiva e peguei uma faca. Depois disso, não lembro mais nada... – a última frase sai com um olhar desviado para o lado.
- Olha, eu não sou advogado, sou professor de direito, não posso fazer a sua defesa. Só tenho pena de você, como uma pessoa sem oportunidades, sem vida social.
- É verdade, doutor, eu não tive oportunidades. A escola era do lado de casa e tinha inclusive merenda boa, mas eu não me dei muito bem com essa história de estudar.
- Sei, você tinha que trabalhar para ajudar a família?
- Não, não, não era isso. Eu gostava mesmo era de fazer festa, de beber. E, de manhã, ficava com muito sono pra ir pra escola. Na verdade, o problema era que a escola era muito cedo. Se fosse à tarde...
- É realmente um absurdo. As escolas tem que se adaptar aos alunos, e não o contrário.
- Boa, doutor. Eu até tava empregado, ganhando uma boa grana. Trabalhava de motorista, mil e quinhentos por mês. Mas, sabe como é, acaba sendo pouco quando a gente tem esses caixas eletrônicos aí... cada um que a gente faz dá uns vinte mil. Daí acabei sendo obrigado a entrar no crime.
- Entendo. É um sintoma do consumismo exacerbado da pós-modernidade. Consumir torna-se uma necessidade, para obter aprovação social.
- Como?
- Deixa pra lá.
- Bom, doutor, já que o senhor não pode fazer nada, teria algum advogado para me indicar?
- Sim, sim, eu conheço um amigo. Trabalha de graça para pessoas necessitadas como você.
- Trabalha de graça? – segura o espanto – Caramba, gente fina! – E pensa: que otário!