No texto anterior sugeri a melhora nos transportes públicos. Lembrei, depois de terminá-lo, do exemplo de Joanesburgo, na África do Sul.
Ouvi uma reportagem no Pretinho Básico que informava um dado gritante: não há ônibus em Joanesburgo!
Depois do Apartheid, grupos e facções começaram a ganhar muito dinheiro com serviços particulares de ônibus e vans, todas piratas, ou seja, sem registro e sem qualquer segurança. Quando o governo tentou instituir o transporte público coletivo, os ônibus foram apedrejados, queimados, sequestrados, e ninguém hoje em dia tem interesse em investir neste setor em Joanesburgo, porque já sabe que vai amargar prejuízos altíssimos com os ataques.
Mas, claro, não deve ser só isso. Como no Brasil, alguém além dos piratas, deve estar ganhando dividendos excelentes com isso tudo. Refiro-me aos “políticos” que, como sangue-sugas, se aproveitam dessa situação para criar um curral eleitoral.
Aqui no interior isso é bem visível. Você já deve conhecer os deputados e vereadores que “ajudam” o povo o tempo todo com transporte para os hospitais da capital e das cidades maiores. Muitas vezes levam os pacientes em seus próprios carros ou pagam do seu próprio bolso passagens para uma consulta qualquer. Na capital, até pouco tempo alguns deputados mantinham casas para abrigar os pacientes do interior que precisavam ficar por alguns dias à espera do tratamento médico. Dormiam e comiam por lá, tudo às custas da verba de gabinete do deputado.
Agora perguntem se estes ilustres políticos atuavam mesmo para melhorar o transporte público, para melhorar o atendimento nos hospitais, para conseguir hospedagens públicas para quem vai esperar por um tratamento médico na capital. Claro que não...
Tal como os de Joanesburgo, por aqui os sanguessugas estão faturando alto politicamente. Angariam os votos não só de quem transportam, mas de toda uma família, de toda a rede de contatos de seus beneficiados. “Mas que homem bom, que dá de seu próprio dinheiro para nos levar até o hospital...”. “Ah, eu fiquei na casa do deputado lá em Floripa, e não paguei nada”.
Este círculo vicioso se confirma a cada ano, quando diminuem as linhas de transporte coletivo entre as cidades e aumentam os preços das passagens. Quando os hospitais não têm mais leitos nem para a emergência e os abrigos públicos só têm espaço para receber uns poucos mendigos que querem ficar por lá. E a barriga gorda dos sanguessugas também se confirma, mas a cada quatro anos, quando são reeleitos seguidamente, eleição após eleição, por fazerem de forma particular aquilo que deveriam trabalhar para exigir do Estado: um mínimo de dignidade.