segunda-feira, 18 de março de 2013

Ser ou fazer, eis a questão!

Não, não foi Hamlet quem discursava a seu espírito. Horácio nem estava perto. Assisti ontem no filme Dama de Ferro, pelo qual Meryl Streep ganhou o Oscar de melhor atriz.

Em determinado momento uma jovem estudante chega perto da já octogenária Lady Thatcher e diz que sempre quis ser como ela. 

Margaret Thatcher, que nunca teve peias na língua, dispara seu turbilhão de energia e dá uma lição à jovem, sobre a diferença entre ser e fazer para ser. "Minha filha", diz ela algo assim, "na minha época nós não queríamos ser alguém importante; nós queríamos realizar coisas importantes, nós queríamos fazer coisas importantes".

Fui dormir com esta. 

Muitas gerações, inclusive a minha, perderam este senso de responsabilidade social. Não querem fazer algo; querem aparentar algo. Querem aparentar força, inteligência, firmeza, coragem, como Lady Thatcher, mas não percebem que esta aparência é apenas a imagem resultante de muito trabalho, de muita dedicação, de um esforço por vezes descomunal, tanto do ponto de vista físico quanto intelectual.

Sim, porque Margaret Thatcher também sofreu, também sentiu nos próprios ombros o peso de suas decisões, e mesmo assim seguiu adiante, convicta, mesmo contra uma gigantesca opinião popular contrária, manteve suas posições e salvou a Inglaterra de um caos econômico que consumiria anos para ser reparado.

O trabalho de promotor de justiça é em certo modo parecido. Tem muita gente aí querendo "ser" promotor de justiça. Mas, para "ser promotor" não basta aprovação num concurso de decorar leis, não basta colocar um terno e sair com uma carteira funcional para cima e para baixo. Para ser promotor é preciso cotovelos na mesa, olhos nos livros, nos processos; é necessário diligência na busca das provas, coragem para dizer o que se pensa e para contrariar opiniões populares, por mais doloroso que isso seja; coragem para bater de frente contra todo um establishment, contra os coroneis das comarcas, contra os donos de tudo, até do povo. É preciso firmeza para enfrentar criminosos, de colarinho branco ou não; responsabilidade para discernir o certo do errado, a mentira da verdade. 

Para ser promotor é preciso fazer o que deve fazer um promotor. Só isso.