quarta-feira, 22 de maio de 2013

Entre concurso, concurseiro e profissional

Ouço de vez em quando na CBN o Max Gheringer. Geralmente os comentários são sobre carreiras em empresas privadas. Dizia ele, há algum tempo, que o patrão busca potencialidades que vai exigir dele na vida prática. Comecei a imaginar a sequência do artigo, tratando depois das carreiras privadas, das carreiras públicas.
encontrar no candidato as

No estilo peculiar de Max Gheringer, acho que ele continuaria assim:

[...] Carlos foi então contratado pela empresa privada, já que demonstrou nas dinâmicas de grupo e nas entrevistas o domínio das potencialidades que a empresa requeria: língua estrangeira, trabalho em equipe e profundo conhecimento do mercado.

Fabiana também é candidata a um emprego, mas desta vez a um cargo público, de promotora de justiça. Preparou-se anos a fio e, finalmente, chegou o dia do concurso. Ela espera demonstrar suas potencialidades aos examinadores. Como boa promotora de justiça, imagina ela, será necessário conhecer os institutos jurídicos fundamentais e ter boa persuasão na redação, afinal de contas, é pelas redações, ou seja, pelas ações judiciais que proporá, que poderá "promover a justiça".

Ledo engano! O ouvinte deve estar preocupado, mas, infelizmente, os concursos públicos não requerem que o candidato demonstre... as potencialidades necessárias para a vida profissional.

Atualmente os candidatos se esforçam para memorizar tudo aquilo que, na vida prática, não precisarão ter de memória. Artigos, leis, códigos, tudo isso está à disposição do profissional à distância de um clique. O que importa mesmo, a persuasão, o domínio dos princípios, dos institutos, a profundidade de raciocínio, nenhuma destas potencialidades se exige nos concursos. 

E a desconfiança sobre as comissões de concurso está tão grande que até mesmo provas subjetivas, discursivas, acabam se transformando em provas objetivas, burocraticamente elaboradas para não terem mais de uma resposta possível (o que, em Direito, muitas vezes não é possível). A ameaça é sempre a mesma: vamos ao Conselho Nacional do Ministério Público! Quer dizer, no exato momento de medir a persuasão e a profundidade do conhecimento jurídico do candidato, exige-se novamente que ele dê um show de decoreba, um pouco diferente apenas daquele que ele deu na etapa preambular (questões de múltipla escolha, objetivas) do concurso, sob pena de anular tudo, concurso, carreira, função pública.

Clap, clap, clap! Ao invés de imitar os bons exemplos da iniciativa privada, cá estamos nós, burocratizando o que ainda não era burocratizado.